Num halloween qualquer há quase uma década sentei-me com um grupo de amigos a ver o original Os Olhos da Montanha (1977). Não consegui acabar de o ver por duas razões: passava das duas da manhã quando os meus pais interromperam a sessão para me colocar na cama, e porque, muito honestamente, passei o tempo todo a desejar que isso acontecesse. Não dormi essa noite, e apesar de ter assistido a outros filmes do realizador, nunca mais terminei Os Olhos da Montanha .
Este conto anedótico volta-me hoje à memória, com a morte de Wes Craven, aos 76 anos. Acordei para esta notícia ainda de olhos semicerrados, e só com o passar das horas é que tenho interiorizado a enorme perda que é a morte do cineasta. Portanto, em vez de dar numa de padre elegíaco, deixo-vos com os três filmes mais importantes do maestro universal do Terror.
Entretanto eu vou acabar de ver Os Olhos da Montanha.
1. The Last House on the Left (1972)
A primeira longa-metragem de Wes Craven integra-se na narrativa de violação-vingança que constituí muitos dos filmes série-B da década de ’70. Violento, nojento, oriundo dos instintos primais e viciosos de uma das mentes mais perturbadas da época, The Last House on the Left deturpa a narrativa de um dos clássicos de Ingmar Bergman, The Virgin Spring (1960), para chocar e desafiar a audiência com os acontecimentos absolutamente maníacos do seu enredo.Segundo reza a lenda, Craven poucos filmes de terror havia visualizado até então, tendo iniciado a carreira a realizar filmes pornográficos. Mas como The Last House on the Left prova, estava destinado a ingressar no cânone exclusivo de admirados e respeitados estetas da ultra-violência e do terror.
2. A Nightmare on Elm Street (1984)
Haverá alguém que desconheça o nome Freddy Krueger? A sua figura e iconografia está tão cinzelada na nossa mente coletiva que acho complicado alguém não acenar em reconhecimento ao ouvir o seu nome. A Nightmare on Elm Street exerce influência ainda hoje no subgénero de filmes slasher, não só devido à realização do mestre Craven mas também ao enredo supernatural que o distinguiu dos seus pares contemporâneos.
Até os Simpsons satirizaram a influência desta obra-prima num dos seus episódios, e é complicado não assistir a um filme de terror sem identificar cenas que devam o seu suspense ou composição de planos a A Nightmare on Elm Street . Craven imbuiu-o com a textura dos pesadelos que nos assombram esporadicamente, forçando as suas personagens a alternarem entre o plano dos sonhos e da realidade numa inconstância que se tornou aterradora para gerações e gerações de espetadores desde então.
3. Scream (1996)
O pessoal mais mainstream talvez conheça Ghostface das paródias grosseiras do franchise Scary Movie , mas foi em Scream que ele surpreendeu as audiências um pouco por todo o mundo, tornando-se num enorme sucesso de bilheteira com 173 milhões de dólares arrecadados. Incrivelmente meta e auto-referencial, Scream foi um ponto de viragem na carreira de Wes Craven, que já vinha a ser anunciado com uma das sequelas ao pesadelo de Freddy Kreuger.
É fácil entender todo o burburinho à volta de Scream : o guião de Kevin Williamson é de mijar a rir, sendo a sua ideia central (o facto das personagens dentro deste slasher conhecerem as regras tintim por tintim do género slasher ) um conceito verdadeiramente original quando estreou. Quase 20 anos passados, ainda é capaz de entreter com a sua premissa tresloucada.
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