Jeffrey Jacob Adams (*) é aquele gajo da ficção de género. Ele tem a mão em praticamente todas os franchises de ficção científica da última década, seja uma produção de Hollywood como Star Trek (2009), ou um programa de televisão como Sob Suspeita (2011-), ou Fringe (2008-2013).
O cineasta começou a sua carreira como compositor e guionista para alguns filmes dos anos 90 como O Regresso de Henry (1991), ou o thriller apocalíptico Armageddon (1998). Então em 2001 fundou a sua companhia de produção Bad Robot, e desde aí que tem composto a música de séries como A Vingadora, Alcatraz, Revolution e Almost Human (para além de as produzir).
(*) Cuja retrospetiva da sua obra iniciamos com este artigo. Star Wars: The Force Awakens deve chegar lá para Dezembro (finalmente!!), com toda a fanfarra e pompa que a nova trilogia da Guerra das Estrelas merece. É engraçado traçar uma cronologia deste realizador em específico, tendo em conta as suas origens, a passagem pela televisão e a inevitável migração para o blockbuster multi-milionário.
Abrams também co-escreveu e realizou o episódio piloto para o colossal Perdidos (2004-2010), duas horas que funcionam como um magistral paradigma do que um primeiro episódio para o meio televisivo deve ser. É que não cria somente uma estrutura perfeita para os futuros episódios simularem; explora também a dinâmica das personagens e das suas personalidades distintas com subtileza, ao mesmo tempo que preenche a narrativa com mistérios interessantes e propositadamente sub-explorados.
Esta ferramenta, apelidada pelo próprio realizador de mystery boxes, tornar-se-ia a trademark mais conhecida e até malfadada de Abrams. No entanto, aqui é usada com proeza, estabelecendo primeiro a identidade de cada personagem através de flashbacks intrigantes e icónicos do traço característico de cada protagonista, um implemento narrativo que continuou a ser utilizado ao longo da série graças ao argumento de J.J. e Damon Lindelof.
O episódio foi o piloto mais caro da altura (já se passaram onze anos!), custando entre 10 a 14 milhões de dólares. Tal preço deveu-se às rodagens in location em vez de em estúdio, assim como aos efeitos CGI empregados para a belíssima queda do avião 815 que ocorre nos primeiros minutos. Esta tornou-se um ponto de referência para o meio; um marco que transformou o pequeno ecrã numa autêntica tela de cinema durante uns breves e empolgantes momentos. Abrams trouxe a excitação e adrenalina do cinema para a sala de estar, e desde então que a matriz das séries de TV nunca mais foi a mesma.
Apesar de Perdidos ser agora mais conhecida pela sua mitologia hiper-complexa, o episódio piloto (assim como, em larga medida, a primeira temporada) centrou-se mais na sobrevivência do grupo central, nas relações das personagens e no ambiente natural que A Ilha representava. Mas, pelo fim do episódio, a série já havia adensado o lado supernatural das coisas. Um urso polar no meio de uma ilha tropical?! Quem diria!
Muitos dos programas televisivos de alto orçamento que se seguiram e que hoje correm (como Game of Thrones e The Walking Dead) devem muito ao piloto de J. J. Abrams: uma grande peça de ficção que ainda agora se prova como uma tour de force da cada vez mais expansiva visão do realizador americano.