Este é o ano do Jason Statham. Após fazer o seu típico papel de tough guy em Wild Card (2015), serviu como o vilão mais aleatório da história do cinema em Velocidade Furiosa 7 (2015), e agora estica os seus músculos mais humorísticos em Spy. Não é como se esta faceta do ator não tivesse precedentes: afinal de contas começou a sua carreira nos filmes de crime de Guy Ritchie, onde o melhor ladrão é aquele que faz as piores piadas, e a duologia Crank (2006, 2009) tem o seu quinhão de momentos cómicos (ainda que absolutamente ridículos).
De nadador olímpico a ator auto-paródico, Jason Statham tem das carreiras mais consistentes do cinema contemporâneo. O seu papel como Rick Ford não é hilariante por Statham fazer boas piadas; é-o porque o ator leva a sua persona de mauzão ao extremo, com monólogos à lá Chuck Norris e tudo.
Portanto é pena não ter salvo Spy do seu próprio charme saloio.
Susan Cooper (Melissa McCarthy) é uma analista da CIA que acompanha as missões do 007 residente Bradley Fine (Jude Law) presa a uma secretária. Mas quando o nome de todos os agentes no terreno é difamado por Rayna (Rose Byrne), Susan é a única que pode arregaçar as mangas e derrotar uma ameaça nuclear aos Estados Unidos.
Comecemos pelo melhor: os atores. Adoro Rose Byrne desde que a vi em Bridesmaids (2011): o seu estilo muito próprio de humor deadpan deixa-me sempre com a lágrima no canto do olho de tanto rir, e o seu papel como super-vilã incipiente Rayna Boyanov deixa-a devorar todo o tipo de cenário com as melhores one-liners do filme. Já falei de Jason Statham, mas Bobby Canavale como Sergio de Luca e Peter Serafinowicz como Aldo são também dois excelentes atores secundários que animam todas as cenas em que entram.
Infelizmente, Nancy (Miranda Hart) é excessivamente irritante e desajeitada para justificar o tempo de antena que lhe é dado. Jude Law também é demasiado oco como o agente Fine, e apesar de esse ser o grande propósito da personagem, não resulta tão bem quanto devia. O comentário em relação aos papéis de género nos filmes de ação/espionagem é interessante, mas a paixão adolescente que Susan tem por Fine corta qualquer momento de coerência temática: a personagem de McCarthy é sempre subserviente às suas emoções românticas.
Mesmo assim, Spy é uma comédia incontrolavemente exuberante, com um par de cenas de ação muito bem realizadas por Paul Feig, cuja habilidade atrás da câmara parece ter melhorado desde o seu filme anterior (e inferior) The Heat (2013). McCarthy é uma heroína credível que evolui de analista tímida para agente determinada num par de horas bem construídas, apesar de achar que o filme ganhava com menos um bom pedaço de história.
Este excesso auto-indulgente é uma trademark de Feig, que ao querer enfiar todas as piadas do mundo estende demasiado a narrativa numa busca pelo maior número de gargalhadas possíveis, que nem sempre (quase nunca) resultam num melhor filme. Com efeito, por cada piada original e incisiva temos duas que já nem um riso forçado conseguem arrancar dos espetadores, simplesmente porque a gordura do guião não foi bem cortada.
No fim, a galhofa inerente a um filme tão feel-good acaba por iludir a narrativa desinspirada (chamar-lhe paródia é, em si, risível) e o despropósito absurdo de algumas cenas que, verdade seja dita, até chegam a ser engraçadas. Spy é leve e passa rápido, uma bomba nuclear de diversão com os seus defeitos mas que, em última análise, simplesmente não quer saber.