Nota: Spoilers, claro.
Casamentos, hambúrgers, reuniões de família, tête-à-têtes dramáticos, lágrimas, sorrisos e super-poderes. O que pedir mais deste fantástico season finale de The Flash?
Nada. Absolutamente nada. O episódio é um autêntico espelho da sua primeira temporada: imperfeito em torno das bordas, mas com um núcleo de encher o coração de alegria. O seu tom rejubilante, os efeitos especiais descolados de uma página de BD e as representações magníficas de atores como Jesse L. Martin e Tom Cavangh tornaram o que podia ser uma spin-off barata na melhor série de super-heróis deste ano. Sim, Agents of SHIELD melhorou bastante, Daredevil continua a deter a melhor coreografia de ação e apesar da terceira temporada de Arrow ter sido uma confusão criativa ainda conseguiu os seus bons momentos.
Mas The Flash reuniu tudo aquilo que é particular ao meio dos comics e adaptou-o sem reticências para o mundo televisivo. Longe está a necessidade de justificar tudo com termos reais e de enraizar os poderes de Barry Allen numa explicação pseudo-científica vinda da cabeça do Christopher Nolan. Não, tudo em The Flash é explicado, mas através de termos recônditos ou inexistentes, amálgamas como Speed Force ou multiverso. A série devolveu a palavra ‘diversão’ às adaptações de banda desenhada e por isso lhe estou grato.
Algo que foi bastante desenvolvido ao longo desta temporada foram as figuras paternas de Barry Allen. Joe é sem dúvida aquele que o criou, e parte da sua personalidade amável e determinada foi imprimida em Barry. Mas este não lhe chama pai até aos últimos momentos do episódio; Henry Allen, apesar de estar injustamente atrás de barras, é o único digno da palavra, e notamos que não é a distância física a impedir os laços afetivos de se formarem entre eles os dois.
Porém, Harrison Wells/Eobard Thawne é a verdadeira revelação. O vilão tem o arco narrativo mais complicado da série, alternando entre mentor preocupado, herói relutante e arqui-inimigo vingativo. Tom Cavanagh aproveita cada minuto em cena para devorar cenário, e espero que o ator volte como regular para a já confirmada segunda temporada.
Este trio de figuras é o coração da narrativa, e são os três a guiarem Barry na sua demanda em se tornar um autêntico super-herói, não um fato ambulante com poderes. Para mim, foi esta triangulação de relações a constituir o núcleo emocional da temporada, mais que qualquer parolice amorosa entre Iris/Eddie/Barry, ou a relação demasiado vaga e apressada entre Caitlin e Ronnie.
Sempre que o romance entrava na equação, The Flash perdia todo o seu ímpeto: é complicado para nós, como audiência, apoiarmos os sentimentos de Barry por Iris quando ele vê Joe como um pai e não a vê a ela como uma irmã. É uma linha muito ténue por onde caminhar que não foi desenvolvida da melhor maneira. Já para não falar do tempo indecente que Iris passou sem saber a identidade do Flash. É o mesmo problema que tenho com as decisões de Oliver em Arrow: esconder algo de alguém para o proteger não é uma razão plausível quando esse segredo causa mais perigo do que aquele que evita. Custou-me imenso personagens inteligentes como Barry e Joe demorarem mais de uma dúzia de episódios a perceber isto.
Por outro lado, o aspeto mais prodigioso de Fast Enough é a forma como consegue enfiar momentos tocantes entre o elenco inteiro sem retirar a urgência necessária para o clímax do episódio. Todas as relações fecham um ciclo: Cisco com Eobard, Eddie com Iris, Caitlin com Ronnie, Barry com os seus três pais. Mas, mais do que isso, Barry com a sua mãe. As palavras que os dois trocam concedem a Barry aquilo que lhe foi roubado por Eobard: um adeus.
Felizmente não é com um adeus que nos despedimos desta temporada de The Flash. O episódio termina num enorme cliffhanger cataclísmico, mas um que não invalida todos os pequenos momentos sentimentais que lhe antecederam. Acho que é essa a principal distinção entre a série de Barry Allen e a de Oliver Queen: uma desenvolveu de forma clara as suas personagens e criou um final emocionante em todos os aspetos, a outra voltou a forçar a hipotética destruição de Starling City, com todos os seus heróis literalmente espalhados pela cidade sem qualquer âncora afetiva.
Vai custar não ter o velocista escarlate todas as semanas no nosso ecrã, mas esperemos que o tempo voe em velocidade Mach Two até ao Outono.
So long, and thanks for all the fish.