O novo filme do adorado realizador mexicano estreia este novembro do outro lado do oceano (e, esperemos, cá também). Crimson Peak é o nome e está recheado de atores de primeira classe e o trailer mais recente promete uma nova aventura pela mente assustadoramente visual e gráfica de del Toro.
Por aqui, achámos que seria engraçado fazer uma retrospetiva mensal do trabalho prévio do realizador, como uma espécie de contagem decrescente cinemática. Começamos pela sua longa-metragem inicial, Cronos (1993).
A primeira longa-metragem do realizador mexicano conta uma pouco ortodoxa narrativa acerca da imortalidade, do seu ideal e o quão sedutor ele é. É visualmente rica em detalhes, e o revisionismo anacronista da imaginação de Guillermo em relação aos vampiros que cria para o seu filme é de louvar.
Há algo no filme incrivelmente datado para mim. Não sei se são os movimentos de câmara, o guarda roupa ou o look antiquado, tão característico de uma era VHS dos anos 90 que muitos querem ver pelas costas, mas a verdade é que me deixou imediatamente de pé atrás (*). As imagens são percorridas por uma espécie de glimmer que torna tudo mais brilhante e artificial. A atenção a este tipo de floreados visuais é uma marca de del Toro, mas em Cronos parece um golpe amador, uma ferramenta mal aproveitada de um realizador a dar os primeiros passos.
(*) Não que seja nenhum purista do digital ou extrema esquerda da era moderna; gosto de clássicos e filmes de culto passados quando o material de que tratam ultrapassa as barreiras estéticas, e mesmo essas são quase sempre um deleite pelo óbvio apelo retro que têm. E o VHS era altamente, pá.
Esse é só um dos pormenores que falham o alvo, e que mais tarde del Toro viria a aprimorar. À laia de muitos filmes dele, há uma componente infantil: a neta da personagem principal, Aurora, toma um papel preponderante na narrativa, como Ofelia em Pan’s Labyrinth (2006), ou Carlos em The Devil’s Backbone (2001).
Contudo, ao contrário destes últimos, Aurora é uma máscara autêntica: órfã dos pais, não fala e mal comunica ao longo do filme. É complicado sentirmos empatia e formar uma relação com esta personagem com a qual passamos pouco tempo, já que o foco da ação está no seu avô e na sua lenta transformação em vampiro. O clímax emocional cai completamente em falso devido a isto, apesar de Aurora ser integral no arco narrativo do avô.
Por outro lado, Ron Perlman é simplesmente fantástico na sua primeira colaboração com del Toro: nota-se a energia e o entusiasmo que teve com o papel de Angel de la Guardia (a ironia do nome não me escapa). A sua personagem é frustrada, vive num marasmo familiar do qual não quer fazer parte mas, por questões monetárias, não abandona. Toda essa frustração é canalizada para a violência interior de Angel e exteriorizada em elementos de comédia pura que são talvez dos mais mordazes de toda a carreira de del Toro.
O foco no supernatural e no lado negro da fantasia mais tradicional, com um inconfundível twist de horror marca de del Toro é o que separa um filme medíocre como Cronos de outras experiências do género. Curto, sucinto e de fácil visualização, aconselho a cinéfilos, fãs do realizador ou a amantes de cinema de terror e de vampiros.